quarta-feira, 31 de outubro de 2012


Paulo Leminski

Biografia:
Filho de Paulo Leminski e Áurea Pereira Mendes. Mestiço de pai polonês com mãe negra, Paulo Leminski que nasceu em Curitiba foi um filho que sempre chamou a atenção por sua intelectualidade, cultura e genialidade. Estava sempre à beira de uma explosão e assim produziu muito. É dono de uma extensa e relevante obra. Desde muito cedo, Leminski inventou um jeito próprio de escrever poesia, preferindo poemas breves, muitas vezes fazendo haicais, trocadilhos, ou brincando com ditados franceses.
Em 1958, aos catorze anos, foi para o Mosteiro de São Bento em São Paulo e lá ficou o ano inteiro. Participou do I Congresso Brasileiro de Poesia de Vanguarda em Belo Horizonte onde conheceu Haroldo de Campos, amigo e parceiro em várias obras. Leminski casou-se, aos dezessete anos, com a desenhista e artista plástica Neiva Maria de Sousa (da qual se separou em 1968). Estreou em 1964 com cinco poemas na revista Invenção, dirigida por Décio Pignatari, em São Paulo, porta-voz da poesia concreta paulista. Em1965, tornou-se professor de História e de Redação em cursos pré-vestibulares, e também era professor de judô. Classificado em 1966 em primeiro lugar no II Concurso Popular de Poesia Moderna.
Casou-se em 1968 com a também poetisa Alice Ruiz, com quem viveu durante vinte anos. Algum tempo depois de começarem a namorar, Leminski e Alice foram morar com a primeira mulher do poeta e seu namorado, em uma espécie de comunidade hippie. Ficaram lá por mais de um ano, e só saíram com a chegada do primeiro de seus três filhos: Miguel Ângelo (que morreu com dez anos de idade, vítima de um linfoma). Eles também tiveram duas meninas, Áurea (homenagem a sua mãe) e Estrela Ruiz Leminski. De 1969 a 1970 decidiu morar no Rio de Janeiro, retornando a Curitiba para se tornar diretor de criação e redator publicitário.
Dentre suas atividades, criou habilidade de letrista e músico. Verdura, de 1981, foi gravada por Caetano Veloso no disco Outras Palavras. A própria bossa nova resulta, em partes iguais, da evolução normal da MPB e do feliz acidente de ter o modernismo criado uma linguagem poética, capaz de se associar com suas letras mais maleáveis e enganadoramente ingênuas às tendências de então da música popular internacional. A jovem guarda e o tropicalismo, à sua maneira, atualizariam esse processo ao operar com outras correntes musicais e poéticasPor sua formação intelectual, Leminski é visto por muitos como um poeta de vanguarda, todavia por ter aderido à contracultura e ter publicado em revistas alternativas, muitos o aproximam da geração de poetas marginais, embora ele jamais tenha sido próximo de poetas como Francisco Alvim, Ana Cristina César ou Cacaso. Por sua vez, em muitas ocasiões declarou sua admiração por Torquato Neto, poeta tropicalista e que antecipou muito da estética da década de 1970.
Na década de 1970, teve poemas e textos publicados em diversas revistas - como Corpo Estranho, Muda Código (editadas por Régis Bonvicino) e Raposa. Em 1975 - e lançou o seu ousado Catatau, que denominou "prosa experimental", em edição particular. Além de poeta e prosista, Leminski era também tradutor (traduziu para o castelhano e o inglês alguns trechos de sua obra Catatau, a qual foi traduzida na íntegra para o castelhano).
Na poesia de Paulo Leminski, por exemplo, a influência da MPB é tão clara que o poeta paranaense só poderia mesmo tê-la reconhecido escrevendo belas letras de música, como Verdura.
Músico e letrista, Leminski fez parcerias com Caetano Veloso, o grupo A Cor do Som e o a banda de punk rock Beijo AA Força entre 1970 e 1989. Teve influência da poesia de Augusto de Campos, Décio Pignatari, Haroldo de Campos, convivência com Régis Bonvicino, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Moraes Moreira, Itamar Assumpção, José Miguel Wisnik, Arnaldo Antunes, Wally Salomão,Antônio Cícero, Antonio Risério, Julio Plaza, Reinaldo Jardim, Regina Silveira, Helena Kolody, Turiba, Ivo Rodrigues.
A música estava ligada às obras de Paulo Leminski, uma de suas paixões, proporcionando uma discografia rica e variada.
Entre 1984 e 1986, em Curitiba, foi tradutor de Petrônio, Alfred Jarry James Joyce, John Fante, John Lennon, Samuel Beckett e Yukio Mishima, pois falava 6 línguas estrangeiras (inglês, francês, latim, grego, japonês, espanhol). Publicou o livro infanto-juvenil ‘’Guerra dentro da gente’’, em 1986 em São Paulo.
Entre 1987 e 1989 foi colunista do Jornal de Vanguarda que era apresentado por Doris Giesse na Rede Bandeirantes;
Paulo Leminski foi um estudioso da língua e cultura japonesas e publicou em 1983 uma biografia de Bashô. Além de escritor, Leminski também era faixa-preta de judô. Sua obra literária tem exercido marcante influência em todos os movimentos poéticos dos últimos 20 anos.
Morreu em 7 de junho de 1989, em consequência do agravamento de uma cirrose hepática que o acompanhou por vários anos.
Obra Poética:
§  Quarenta clics em Curitiba. Poesia e fotografia, com o fotógrafo Jack Pires.
§  Curitiba, Etecetera, 1976. (2ª edição Secretaria de Estado Cultura, Curitiba, 1990.) n.p.
§  Polonaises. Curitiba, Ed. do Autor, 1980. n.p.
§  Não fosse isso e era menos/ não fosse tanto e era quase. Curitiba, Zap, 1980. n.p.
§  Tripas. Curitiba, Ed. do Autor, 1980.
§  Caprichos e relaxos. São Paulo, Brasiliense, 1983. 154p.
§  e Ruiz, Alice. Hai Tropikais. Ouro Preto, Fundo Cultural de Ouro Preto, 1985. n.p.
§  Um milhão de coisas. São Paulo, Brasiliense, 1985. 6p.
§  Caprichos e relaxos. São Paulo, Círculo do Livro, 1987. 154p.
§  Distraídos Vencemos. São Paulo, Brasiliense, 1987. 133p. (5ª edição 1995)
§  La vie en close. São Paulo, Brasiliense, 1991.
§  Winterverno (com desenhos de João Virmond). Fundação Cultural de Curitiba, Curitiba, 1994. (2ª edição publicada pela Iluminuras, 2001. 80p.)
§  Szórakozott Gyozelmunk (Nossa Senhora Distraída) - Distraídos venceremos, tradução de Zoltán Egressy, Coletânea organizada por Pál Ferenc. Hungria, ed. Kráter, 1994. n.p.
§  O ex-estranho. Iluminuras, São Paulo, 1996.
§  Melhores poemas de Paulo Leminski. (seleção Fréd Góes) Global, São Paulo, 1996.
§  Aviso aos náufragos. Coletânea organizada e traduzida por Rodolfo Mata. Coyoacán - México, Eldorado Ediciones, 1997. n.p.
Obra em Prosa:
§  Catatau (prosa experimental). Curitiba, Ed. do Autor, 1975. 213p.
§  Agora é que são elas (romance). São Paulo, Brasiliense, 1984.1 63p.
§  Catatau. 2ª ed. Porto Alegre, Sulina, 1989. 230p.
§  Metaformose, uma viagem pelo imaginário grego (prosa poética/ensaio). Iluminuras, São Paulo, 1994. (Prêmio Jabuti de poesia , 1995)
§  Descartes com lentes (conto). Col. Buquinista, Fundação Cultural de Curitiba, Curitiba, 1995.
§  Agora é que são elas (romance). 2ª ed. Brasiliense / Fundação Cultural de Curitiba, 1999.
§  Catatau. São Paulo, Iluminuras, 2010. 256p.
Produção  musical:
§  1981- Verdura - Caetano Veloso no disco Outras palavras
§  1981- Mudança de estação -A cor do Som no disco Mudança de estação
§  1981- Valeu - Paulinho Boca de Cantor no disco Valeu
§  1982- Se houver céu - Paulinho Boca de Cantor no disco Prazer de viver
§  1982- Razão - A Cor do Som no disco Magia tropical
§  1990- Verdura - Blindagem no disco Blindagem
§  1990- Se houver céu - Blindagem no disco Blindagem
§  1993- Mãos ao alto - Edvaldo Santana no disco Lobo solitário
§  1994- Luzes - Susana Sales no disco Susana Sales
§  1996- Mudança de estação - A cor do Som no disco Ao vivo no circo



Catatau(1975)

"Que flecha é aquela no calcanhar daquilo? Picatacapau! Pela pena é persa, pela precisão do tiro — um mestre. Ora os mestres persas são sempre velhos. E mestre, persa e velho só pode ser Artaxerxes ou um irmão, ou um amigo, ou discípulo ou então simplesmente alguém que passava e atirou por despautério num momento gaudério de distração. Flecha se atira em movimento, ninguém está parado. Nem o cavalo, nem o cavaleiro; nem a mente, nem a mão; nem o arco, nem a flecha, e o alvo o vento leva: tiro certo. Dentiscalpium in oculo. Todo teu lado direito puxa a linha, todo o esquerdo segura a flecha. Spes! Tiro feito, volta-se à unidade perdida. Mas arcos atrás isso não é coisa que se diga, que se faça, arqueiro pouco diz. Cala-se, de hábito, porque ignora tudo na arte em que é exímio. Depois, velhos não são dados a festas. Lísbia sabatária — bazanz! Sabazii sabaia! Copaplena! Muito sabe, pouco ri. Enquanto muitos riem, os mestres a portas fechadas meditam sobre a guerra. O primeiro gole de vinho melhora o tiro, o segundo gole — só Zenão! Assim como o primeiro tiro aprimemora o segundo tiro, a segunda flecha corrige a receita. Eclipse entra no sol em frente duma flecha persa, o sol pára e Xerxes o preenche a flechas. Como viver à luz de flechas? Da arte — não se vive; ver flor, calar. E calando a boca, de assunto mudo, vamos falar de flechas persas. O assunto me muda. O silêncio, próprio de alunos, instrui. Mas só os mestres sabem calar dizendo tudo. Tudo é ainda pouco. Na gata! Acertou na gata, paragate, parassangate! Tudo não tem detalhes. Na arte, detalhe é tudo, todo cuidado é pouco em se tratando dos mínimos detalhes que lhe derem na telha. Veja um mestre, por exemplo; como se move, como se levanta, como sabe fazer bem as coisas que todo mundo sabe. Mas há mestres e mestres. Nem todo mestre é próspero. Alguns cultivam artes sutilíssimas. Esses, às vezes, não têm apóstolos. São os últimos pioneiros. Livro não adianta. O dedo do mestre é sempre mais que o centro aonde aponta, ou não então? A cara dos mestres é o modelo das máscaras. Que cara alguém terá para erguer a máscara que jaz sobre a cara dos mestres? Tem uma palavra muito boa para dizer isso mas os mestres não ensinam a falar, só a fazer. O que se pode dizer da arte nada tem que ver com ela. O mestre é onde a arte já morreu: por isso, mestres não lutam. Sempre há coisas que aprender: um pequeno truque, um meneio mais rápido, um trejeito gaiato, um grito junto. O que os mestres sabem é o que há para aprender."

°°°

"A sombra traz um vento soprando o lume só para ver a que mundo este se resume. Mina e tresmina, por ventura, se for, pendura: já pensou o que é o bandido na história do gênero humano? O desqualificado atrás dos matos, esperando passar o produtor, e preda-o! Salpicado de súplicas, venham e envelheçam vindo: me castisalfo com pouco, — trinca e destrincha, pierre catrinta! Quem depois de assaltado, roubado e rapto, tendo perdido o senso da propriedade junto com seus pertences, segue seus captores e acaba tetrarca da quadrilha! Quando eu mais contava em ficar louco, fiquei apenas tonto, o que está para o pretendido assim como o pretendente está para a pretensão! Constrangido, quem me constrange? Constrangem-me alfângelos e quimelanges! Acenda essa cozinha, bota a ferver, ferviture-te, salutão! Não foi nada, todos compreenderão: nada sem certa luz que me miliúnica no apagar da vela — aos olhos deslumbra, ofusca, embacia, envesga, cega e vaza. Houve quem dissesse, aqui jaza como se estivesse em sua própria casa, tentando a ferro e fogo passar despercebido por meu ímã e águas, ora, onde é que nós estamos que já não reconhecemos os desconhecidos? Quer ter a bondade de martirizar essa santa ignorância? Levantar o dedo, é só não estarem olhando. Um odor, um abano asmático, um aceno espasmódico, um sínodo sistemático, ou então um som, ou senão for um reflexo, fiquei sem ter o que dizer, na surdina da oitiva, na pior das hipóteses! Quando não dá pé, pergunto: tão raso o quanto antes passei? Escantilhado em conheceiras, convosco quisera cruzadas serenimonhas em outras desencurtilheiras! Um acorde discrepante, um prenhilunho: combates são biscates, destaque os banquetes! O homem idôneo, no momento quandâneo, no lugar ubíquo: lautas mãos pilantras, incólumes na calamidade. Uma cabeçada no pé, uma mancada na palma da mão, uma cotovelada virando o coxo do cachorro magro, uma olhada atravessada, uma pedagógica no meio do pontapeito, amanhã, ao cantar o galo, sem saber de que lado, venham! Me arrependiam os cabelos, perde o pêlo no medo onde se pela, interpelanca: lã costeando, lá se dói tosqueado! Não fale mal de boca cheia, do prato cheio — não vire o ninho da galinha choca, dobre a língua e brade a vagina a seu bom bradar: meteu o braço na cumbuca, a cabeça a quem lhe caiba a arapuca; a perna me coxeia, percebo cancelas naquelas canceiras canelas. Num ouvido, escrito: . ENTRADA, noutro ouvido, escrito: SAÍDA — em cada rasto, a estampa de seu rosto para espanto de todo um outro resto!

Poemas de Leminski:
·         Não Discuto


não discuto 
com o destino 

o que pintar 
eu assino 
Comentário: Deus já sabe a vida de cada um, e Leminski diz que se foi ele que fez ele tem que assinar em baixo sendo certo ou errado.
·        Bem no Fundo 

No fundo, no fundo, 
bem lá no fundo, 
a gente gostaria 
de ver nossos problemas 
resolvidos por decreto 

a partir desta data, 
aquela mágoa sem remédio 
é considerada nula 
e sobre ela — silêncio perpétuo 

extinto por lei todo o remorso, 
maldito seja que olhas pra trás, 
lá pra trás não há nada, 
e nada mais 

mas problemas não se resolvem, 
problemas têm família grande, 
e aos domingos saem todos a passear 
o problema, sua senhora 
e outros pequenos probleminhas.
Comentário: Que não adianta você ficar olhando para o passado e a gente tem que viver o hoje o futuro, você pode ter tido muitos problemas no passado mais se você andou certo com certeza não vai ter problema no futuro nem com a sua família nem com sigo mesmo


·         Classes sociais
 en la lucha de clases 
todas las armas son buenas 
piedras 
moches 
poemas 
Comentário: Ele quis dizer que não importa a sua classe social e sim que todas as armas são boas, principalmente, poemas.



Nomes: Felipe Chagas nº:10
            João Pedro: nº
           Luccas Terra nº 21
           Rafael Peixoto nº27
           Rayane Lins nº 28
           Wellington Souza nº:34

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